A Psicanálise na Contemporaneidade e as Mídias Sociais- Os Malefícios na Personalidade Humana
Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar, à luz da psicanálise, os impactos das mídias sociais na personalidade humana na contemporaneidade. A partir de uma revisão teórica e de estudos recentes sobre o comportamento humano e as relações sociais, busca-se compreender como a exposição constante às redes sociais pode contribuir para o desenvolvimento de distúrbios psíquicos, tais como ansiedade, depressão e transtornos de personalidade. O artigo discute ainda como a psicanálise pode oferecer ferramentas para o enfrentamento dessas questões, propondo reflexões sobre a construção da subjetividade e as relações interpessoais no ambiente digital.
Introdução
A psicanálise, desde suas origens com Freud, sempre esteve atenta às mudanças nas formas de subjetivação e nas relações humanas. Na contemporaneidade, com a ascensão das mídias sociais, emergem novas formas de interação que colocam desafios significativos para a compreensão da personalidade e das dinâmicas psíquicas. As redes sociais, ao oferecerem plataformas para a exposição constante e para a busca incessante de validação externa, têm sido associadas a uma série de malefícios psíquicos, entre eles, a exacerbação do narcisismo, a fragilização da autoestima e o aumento de quadros de ansiedade e depressão (Freud, 1914; Lacan, 1964).
A presente pesquisa busca explorar como essas mudanças tecnológicas e sociais impactam a constituição da personalidade humana, a partir de uma perspectiva psicanalítica. Quais são os efeitos das interações mediadas pelas redes sociais na construção do self? Como o excesso de comparações e a constante busca por validação afetam o bem-estar psicológico? Tais questões são cruciais para entendermos os novos desafios da psicanálise na contemporaneidade.
Desenvolvimento
1. A Psicanálise e a Construção da Personalidade na Era Digital
A construção da personalidade, segundo Freud (1923), ocorre a partir da interação entre o id, ego e superego. No ambiente das mídias sociais, essas estruturas psíquicas são constantemente desafiadas. O ego, que mediará os desejos inconscientes do id e as exigências do superego, é pressionado pela necessidade de conformidade com os padrões estéticos e comportamentais idealizados nas redes sociais. Estudos indicam que essa dinâmica pode levar à exacerbação do narcisismo e ao enfraquecimento do superego, que se torna permissivo frente ao desejo de aprovação (Lasch, 1979; Kernberg, 1975).
Além disso, a psicanálise destaca a importância do Outro na formação da subjetividade. Para Lacan (1964), o sujeito se constitui a partir do olhar do Outro, o que nas redes sociais se manifesta na busca constante por likes e seguidores, indicadores de aceitação e validação. A construção da identidade, então, se dá em um cenário marcado pela superficialidade das interações e pela ansiedade gerada pela comparação constante com as vidas idealizadas dos outros.
2. Narcisismo e Redes Sociais: Uma Relação Perversa
O conceito de narcisismo, introduzido por Freud (1914), torna-se central na análise das interações nas mídias sociais. O ambiente digital, ao promover a autoexposição e a busca incessante por reconhecimento, alimenta o narcisismo, especialmente em sua forma patológica. Lasch (1979) argumenta que a cultura contemporânea, com sua ênfase no individualismo e na autossuficiência, intensifica o narcisismo, fenômeno amplificado pelas redes sociais.
As consequências desse narcisismo exacerbado incluem a dificuldade em estabelecer vínculos profundos e autênticos, bem como o aumento da vulnerabilidade emocional frente à crítica e à rejeição (Kernberg, 1975). A personalidade, nesse contexto, torna-se frágil, dependente da validação externa e incapaz de lidar com frustrações e contrariedades.
3. Ansiedade, Depressão e o Impacto das Comparações Sociais
Outro aspecto relevante discutido na literatura psicanalítica é o impacto das comparações sociais nas plataformas digitais. Festinger (1954) postulou que os indivíduos tendem a avaliar suas próprias capacidades e opiniões em comparação com as dos outros, um fenômeno que se intensifica nas redes sociais. A exposição contínua a conteúdos que mostram vidas idealizadas pode levar ao aumento da ansiedade e da depressão, especialmente entre jovens (Twenge, 2017; Turkle, 2011).
A psicanálise contribui para a compreensão desse processo ao enfatizar como essas comparações reforçam sentimentos de inadequação e insegurança. O superego, ao internalizar padrões de sucesso e felicidade apresentados nas mídias sociais, pode se tornar extremamente crítico, exacerbando sentimentos de culpa e baixa autoestima.
4. O Vazio Existencial e a Busca Incessante por Sentido
A psicanálise contemporânea também explora a sensação de vazio existencial que permeia a vida moderna, exacerbada pelo uso intensivo das redes sociais. A busca incessante por sentido, que muitas vezes se expressa na necessidade de ser visto e reconhecido, pode resultar em uma vida marcada pela superficialidade e pela ausência de vínculos significativos (Bauman, 2001).
Esse vazio, segundo a perspectiva psicanalítica, está relacionado à dificuldade em lidar com a castração simbólica, ou seja, a aceitação das limitações e frustrações inerentes à condição humana (Lacan, 1964). As redes sociais, ao promoverem uma cultura de hiperconectividade e satisfação instantânea, dificultam o desenvolvimento da capacidade de tolerar a solidão e o tédio, aspectos fundamentais para o amadurecimento psíquico.
Conclusão
As mídias sociais representam um fenômeno de grande relevância na contemporaneidade, com impactos profundos na construção da personalidade e nas dinâmicas psíquicas. A psicanálise oferece um arcabouço teórico robusto para a compreensão desses fenômenos, permitindo-nos identificar os malefícios que o uso excessivo das redes sociais pode causar à saúde mental.
A exacerbação do narcisismo, o aumento da ansiedade e da depressão, e a sensação de vazio existencial são algumas das consequências negativas associadas à interação constante com as mídias sociais. A psicanálise, ao promover uma compreensão mais profunda desses processos, pode oferecer caminhos para o enfrentamento desses desafios, incentivando a reflexão sobre o uso consciente das tecnologias e a busca por formas mais autênticas de relacionamento e construção de identidade.
Referências Bibliográficas
Bauman, Z. (2001). Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Festinger, L. (1954). A theory of social comparison processes. Human Relations, 7(2), 117-140.
Freud, S. (1914). Introdução ao narcisismo. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 14, pp. 81-108). Rio de Janeiro: Imago.
Freud, S. (1923). O ego e o id. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 3-66). Rio de Janeiro: Imago.
Kernberg, O. F. (1975). Borderline conditions and pathological narcissism. New York: Jason Aronson.
Lacan, J. (1964). O seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Lasch, C. (1979). A cultura do narcisismo: A vida americana numa era de expectativas decrescentes. Rio de Janeiro: Imago.
Turkle, S. (2011). Alone together: Why we expect more from technology and less from each other. New York: Basic Books.
Twenge, J. M. (2017). iGen: Why today’s super-connected kids are growing up less rebellious, more tolerant, less happy—and completely unprepared for adulthood. New York: Atria Books.
Este artigo oferece uma análise crítica dos impactos das mídias sociais na personalidade humana a partir de uma perspectiva psicanalítica, contribuindo para o debate sobre os desafios psíquicos na era digital.
Paulo Alexandre Macedo Rosa- Psicanalista.
Agende sua consulta através do WhatsApp: (41) 98873-5489.
Excelente artigo Paulo, vc está de Parabéns